Ao todo foram 11 cangaceiros mortos, entre eles Lampião e Maria Bonita
Foto: Reprodução/Internet
Lampião |
Em 28 de Julho de 1938 chegava ao fim a trajetória do líder cangaceiro mais polêmico e influente da história do cangaço. A tentativa de explicar a morte de Lampião levanta controvérsias e alimenta a imaginação, dando origem a várias hipóteses acerca do fim de seu "reinado" nos sertões nordestinos. Existe a versão oficial que sustenta a chacina de Angicos pelas forças volantes de Alagoas e existe também a versão do envenenamento de grande parte do grupo que se encontrava acampado em Angicos.
A versão oficial explica que Lampião e a maior parte de seus grupos se encontravam acampados em Sergipe, na fazenda Angicos, no município de Poço Redondo, quando foram surpreendidos por volta das 5h30 da manhã; as forças volantes de Alagoas agiram guiadas pelo coiteiro Pedro de Cândido e os cangaceiros não tiveram tempo de esboçar qualquer reação. Lampião é o primeiro a ser morto na emboscada.
Ao todo foram 11 cangaceiros mortos, entre eles Lampião e Maria Bonita; em seguida, depois da decapitação, deu-se a verdadeira caça ao tesouro dos cangaceiros, desde as jóias, dinheiro, perfumes importados e tudo mais que tinha valor foi alvo da rapinagem promovida pela polícia.
Cabeça dos 11 cangaceiros. Lampião é o último de baixo. Maria Bonita fica logo acima dele (Foto: Reprodução/Internet) |
Depois de ter sido pressionado pelo ditador Getúlio Vargas, que sofria sérios ataques dos adversários por permitir a existência de Lampião, o interventor de Alagoas, Osman Loureiro, adotou providências para acabar com o cangaço; ele prometeu promover ao posto imediato da hierarquia o militar que trouxesse a cabeça de um cangaceiro.
Ao regressarem à cidade de Piranhas as autoridades alagoanas decidiram exibir na escadaria da Prefeitura, as cabeças dos 11 cangaceiros mortos em Angicos. A macabra exposição ainda seguiu para Santana do Ipanema e depois para Maceió, aonde os políticos puderam tirar proveito o quanto quiseram do evento mórbido - a morte de Lampião e o pseudo-fim do cangaço no Nordeste foram temas de muitas bravatas políticas.
LOCALIZAÇÃO
O acampamento onde estava Lampião e seu grupo ficava na margem direita do rio São Francisco, no Estado de Sergipe, município de Poço Redondo. A gruta de Angicos está situada a 1 km da margem do Velho Chico e estrategicamente favoreceu ao possível ataque da polícia alagoana. O local do acampamento é um riacho temporário que na época estava seco e a grande quantidade de areia depositada formava um piso excelente para armar o acampamento. Mas, por ser uma grota, desfavorecia aos cangaceiros que estavam acampados embaixo.
Ao fundo, o lugar onde estavam acampados os cangaceiros, na gruta de Angicos (Foto: Reprodução/Ovemundo) |
DE VIRGULINO A LAMPIÃO
Virgulino Ferreira da Silva nasceu no município de Serra Talhada, em Pernambuco, e se dedicou a várias atividades: vaqueiro, almocreve, poeta, músico, operário, coreógrafo, ator, estrategista militar e chegou a ser promovido ao posto de capitão das forças públicas do Brasil, na época do combate à Coluna Prestes, no governo de Getúlio Vargas.
Sua infância foi como a de qualquer outro menino nascido no sertão nordestino; pouco estudo e muito trabalho desde cedo. Ainda menino, Virgulino recebe de seu tio um livro da biografia de Napoleão Bonaparte o que vai permitir a introdução de várias novidades desde o formato do chapéu em meia lua, algo inexistente até a entrada de Lampião no cangaço, até a formação de grupos armados e passando por táticas de guerra.
O jovem Virgulino percorreu todo o Nordeste, do Moxotó ao Cariri, comercializando de tudo pelas cidades, povoados, vilas, sítios e fazendas da região - ele vendia bugigangas, tecidos, artigos em couro; trazia as mercadorias do litoral para abastecer o sertão. Na adolescência, por volta dos 19 anos, Virgulino trabalhou para Delmiro Gouveia transportando algodão e couro de bode para a fábrica da Pedra, hoje município homônimo do empresário que o fundou.
As estradas eram precárias e o automóvel algo raro para a realidade brasileira do início de século XX; o transporte utilizado por esses comerciantes para chegarem aos seus clientes era o lombo do burro. Foi daí que Virgulino passou a conhecer o Nordeste como poucos e esta fase de sua adolescência foi fundamental para a sua permanência, durante mais de vinte anos, no comando do cangaço.
E O QUE MUDOU?Sua infância foi como a de qualquer outro menino nascido no sertão nordestino; pouco estudo e muito trabalho desde cedo. Ainda menino, Virgulino recebe de seu tio um livro da biografia de Napoleão Bonaparte o que vai permitir a introdução de várias novidades desde o formato do chapéu em meia lua, algo inexistente até a entrada de Lampião no cangaço, até a formação de grupos armados e passando por táticas de guerra.
O jovem Virgulino percorreu todo o Nordeste, do Moxotó ao Cariri, comercializando de tudo pelas cidades, povoados, vilas, sítios e fazendas da região - ele vendia bugigangas, tecidos, artigos em couro; trazia as mercadorias do litoral para abastecer o sertão. Na adolescência, por volta dos 19 anos, Virgulino trabalhou para Delmiro Gouveia transportando algodão e couro de bode para a fábrica da Pedra, hoje município homônimo do empresário que o fundou.
As estradas eram precárias e o automóvel algo raro para a realidade brasileira do início de século XX; o transporte utilizado por esses comerciantes para chegarem aos seus clientes era o lombo do burro. Foi daí que Virgulino passou a conhecer o Nordeste como poucos e esta fase de sua adolescência foi fundamental para a sua permanência, durante mais de vinte anos, no comando do cangaço.
O cangaço foi um fenômeno social bastante importante para a história das populações exploradas dos sertões brasileiros. Existem registros que datam do século XIX e que nos mostram a existência deste fenômeno por mais ou menos dois séculos. O cangaço só se tornou possível graças ao desinteresse do poder público e os desmandos cometidos pelos coronéis e pela polícia com a subserviência do Estado.
O sertão nordestino sempre foi tratado de forma desigual em relação à região litorânea, e o fenômeno da seca sempre foi utilizado para manutenção dos privilégios da elite regional. O fenômeno social do cangaço não deixa de ser uma reação a este modelo desumano de ocupação do território brasileiro, e à altíssima concentração de renda e de influência política.
O governo brasileiro nunca ofereceu os direitos básicos, fundamentais aos sertanejos; o Estado jamais ofereceu educação, saúde, moradia, emprego o que tornou a sobrevivência no sertão complicada; o único braço estatal conhecido na região é a polícia, que, como sabemos, age na defesa do “status-quo”, é prepotente e intimida.
O poder dos coronéis do sertão era o que prevalecia em detrimento dos direitos fundamentais da população. A economia sertaneja era basicamente a criação de gado para o suprimento do país, a carne do sertão abastecia os engenhos de açúcar e as cidades do Brasil. O sertão historicamente foi ocupado com a pecuária.
Passado 79 anos a realidade do sertão nordestino não mudou muito; o cangaço se foi e no lugar surgiram pistoleiros de aluguéis que moram no asfalto; e os coronéis de antigamente hoje estão espalhados e infiltrados nos três poderes, gozando de foro privilegiado. A seca ainda vitima milhões de sertanejos, que continua sendo tratada da mesma forma assistencialista do passado. Finalmente, a corrupção continua a mesma; mudaram os personagens e a moeda.
E, infelizmente, a impunidade que também é a mesma de muito antes do cangaço.
Fonte: Aprígio Vilanova
O sertão nordestino sempre foi tratado de forma desigual em relação à região litorânea, e o fenômeno da seca sempre foi utilizado para manutenção dos privilégios da elite regional. O fenômeno social do cangaço não deixa de ser uma reação a este modelo desumano de ocupação do território brasileiro, e à altíssima concentração de renda e de influência política.
O governo brasileiro nunca ofereceu os direitos básicos, fundamentais aos sertanejos; o Estado jamais ofereceu educação, saúde, moradia, emprego o que tornou a sobrevivência no sertão complicada; o único braço estatal conhecido na região é a polícia, que, como sabemos, age na defesa do “status-quo”, é prepotente e intimida.
O poder dos coronéis do sertão era o que prevalecia em detrimento dos direitos fundamentais da população. A economia sertaneja era basicamente a criação de gado para o suprimento do país, a carne do sertão abastecia os engenhos de açúcar e as cidades do Brasil. O sertão historicamente foi ocupado com a pecuária.
Passado 79 anos a realidade do sertão nordestino não mudou muito; o cangaço se foi e no lugar surgiram pistoleiros de aluguéis que moram no asfalto; e os coronéis de antigamente hoje estão espalhados e infiltrados nos três poderes, gozando de foro privilegiado. A seca ainda vitima milhões de sertanejos, que continua sendo tratada da mesma forma assistencialista do passado. Finalmente, a corrupção continua a mesma; mudaram os personagens e a moeda.
E, infelizmente, a impunidade que também é a mesma de muito antes do cangaço.
Fonte: Aprígio Vilanova
Fonte: Blog NP
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