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quarta-feira, 18 de abril de 2018

Volume do açude de Boqueirão sobe 984% um ano após transposição, na PB

Recarga no açude Epitácio Pessoa foi de 117 milhões de metros cúbicos em um ano, após chegada das águas do Rio São Francisco.
Açude Boqueirão saiu de nível crítico desde a chegada das águas da transposição do São Francisco, há um ano (Foto: Reprodução/TV Paraíba)
Ao olhar o açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão, hoje, o semblante do pescador José Gomes, de 58 anos, é de contemplação e demostra a renovação de uma esperança que havia ficado para trás. É que um ano após o encontro das águas da Transposição do Rio São Francisco com o espelho d'água de Boqueirão, a cena de um reservatório quase seco e com o pior volume da sua história - 2,9% da capacidade total - vai sendo modificada pela recarga de 117 milhões de metros cúbicos de água acumulados no açude ao longo dos últimos 12 meses.

Nesta quarta-feira (18), o açude de Boqueirão passa dos 129 milhões de m³ de água, um volume de mais de 30%, de acordo com dados são da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa). O número corresponde a um crescimento de 984% sobre os 11,9 milhões de metros cúbicos que o reservatório acumulava antes da transposição.

O açude vem se recuperando de uma severa crise hídrica, fato que está ressignificando a vida das pessoas que há um ano viviam a iminência de um colapso total de água.

"Ah, agora tá outra coisa. Tá bom demais. Antes dessa transposição em quatro dias eu conseguia pescar uma média de 25kg de peixe. Hoje consigo isso em um dia só. Sem falar a riqueza que é ter água, né?! Isso é bom demais, não tem nem como comparar. Foi ótimo!", destacou o pescador José Gomes, que há cerca de 25 anos provém o sustento da família com a atividade de pesca no açude de Boqueirão, no Cariri paraibano.

A observação feita pelo pescador revela a transformação do cenário do açude após a chegada das águas São Francisco, bem como a mudança de vida e a satisfação pela situação atual do reservatório, sentimento compartilhado também por cerca de um milhão de pessoas que vivem nos 19 municípios abastecidos por Boqueirão, incluindo Campina Grande.

O encontro das águas do São Francisco com o espelho d’água de Boqueirão aconteceu na noite do dia 18 de abril de 2017, uma semana após a chegada à bacia hidráulica do açude Epitácio Pessoa. Esse encontro ocorreu 41 dias após as águas do Velho Chico terem chegado no município de Monteiro, também no Cariri da Paraíba.

Nessa época, o reservatório estava com o pior nível desde a fundação, no fim da década de 1950. Boqueirão tem capacidade para armazenar até 411.686.287 de m³ de água, mas estava neste período com pouco mais de 11,9 milhões, segundo a Aesa. O último pior índice registrado foi em uma crise hídrica que ocorreu no fim da década de 1990, quando o açude atingiu a margem de 14% do volume total. Ele nunca havia chegado ao volume morto antes.

Na análise do especialista em recursos hídricos, Isnaldo Cândido, a mudança do cenário se deve em grande parte pelas águas do Velho Chico. “A situação do açude Epitácio Pessoa antes da chegada das águas do São Francisco era uma situação muito crítica. Uma situação que veio melhorar foi a chegada das águas do São Francisco, sem sombra de dúvidas. Era um momento esperado a bastante tempo porque sem essa água seria um caos. Isso representa para a região a volta às atividades normais. Sem essa transposição fica até difícil imaginar como estaríamos hoje”, pontuou.

A Aesa acrescenta ainda que o aumento do volume de Boqueirão se deve também às chuvas que vem sendo registradas na região nos últimos meses, o que tem renovado e fortalecido a esperança das pessoas que vivem nos locais abastecidos pelo reservatório.

Saída do racionamento

O encontro das águas de Boqueirão com o Velho Chico alimentava a expectativa do manancial sair desse volume morto, bem como do fim do racionamento de água nos municípios abastecidos por ele, que estava sendo operacionalizado desde o dia 6 de dezembro de 2014. No dia 21 de agosto de 2017, Boqueirão chegou ao volume de 8,2% de sua capacidade total devido às águas da transposição e saiu do volume morto.

Em função disso, da noite do dia 25 de agosto para o dia 26 a distribuição de água nas cidades abastecidas por Boqueirão voltou à normalidade, e foi decretado o fim do racionamento. Passados quatro meses da chegado das águas do Velho Chico a Boqueirão e quase dois anos e oito meses do início do racionamento da região, a população de Campina e das outras 18 cidades abastecidas pelo Epitácio Pessoa voltou a ter água nas torneiras todos os dias, de acordo com informações da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa).

Interrupção no bombeamento

O abastecimento de Boqueirão com as águas da transposição do São Francisco está temporariamente suspenso desde o último dia 2, em função da retomada das obras de recuperação nos açudes de Poções e Camalaú, atendendo a uma recomendação do Ministério Público Federal (MPF) na Paraíba.

De acordo com o Dnocs, a retomada das obras foi necessária para que os açudes pudessem armazenar água das chuvas com segurança. Isso porque, no período em que os municípios abastecidos pelo açude Epitácio Pessoa estavam na iminência do colapso total de água, o Dnocs encontrou como solução imediata, a execução de um canal escavado através dos vertedouros das barragens Poções e Camalaú.

Através da construção desse canal, foi possível permitir a passagem das águas do Rio São Francisco para Boqueirão em caráter provisório e emergencial, de modo que agora é necessário fechar esse canal que foi aberto. A previsão é de que as obras sejam concluídas em quatro meses.

Caminho da transposição

A água da transposição do Rio São Francisco chega à cidade de Monteiro, na Paraíba, através do eixo leste. Neste trecho, a água é captada na cidade de Petrolândia, no Sertão de Pernambuco, e viaja por 208 quilômetros até chegar à cidade paraibana.

A água captada do Rio São Francisco passa por seis estações elevatórias de água, cinco aquedutos, 23 segmentos de canais e ainda 12 reservatórios. A intenção da criação dos reservatórios é beneficiar as comunidades onde foram construídos e também garantir que a água não pare de correr pelos canais, caso seja necessário fazer algum reparo no trecho.

O Governo Federal, por meio do Ministério da Integração Nacional, informou que já concluiu, em março de 2017, as obras do eixo leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco, que passa pelo estado da Paraíba. Desde então, as águas do Velho Chico têm abastecido um milhão de pessoas em 33 cidades paraibanas.

Mais 14 cidades beneficiadas com transposição

Ainda neste primeiro semestre, outros 14 municípios na região Agreste passaram a ser abastecidos pelas águas do Velho Chico, por meio do açude Argemiro de Figueiredo, o Acauã, uma vez que no dia 22 do último mês de março as comportas do reservatório Boqueirão foram abertas para liberar água para este reservatório que está em situação crítica, com 5,5% da sua capacidade, conforme dados da Aesa.

Ainda conforme o Ministério da Integração, a abertura dessas comportas não oferece prejuízos para o açude de Boqueirão nem para a população abastecida por ele, pois o Epitácio Pessoa já atingiu a segurança hídrica.

A abertura das comportas do açude de Boqueirão foi autorizada pela Agência Nacional das Águas (ANA), por meio de uma resolução publicada no Diário Oficial da União do dia 7 de março, determinando uma descarga de 4,8 m³ do Epitácio Pessoa.

Eixo Norte da transposição

O Ministério da Integração informou que a obra no eixo norte, última etapa do trecho em solo paraibano, está 98% finalizada. A previsão do Governo Federal é de que as águas do Velho Chico percorram os canais de toda a estrutura até o final deste ano para atender aos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Fonte:Eloyna Alves, G1 PB

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